As transformações que ocorrem nos grupos de Teatro e Comunidade
acontecem se o colectivo permanecer muito tempo junto e realizar um grande
número de actividades ou performances.
Caso o grupo seja novo, ou o encontro seja espaçado no tempo ou de curta
duração, em vez de acorrer uma transformação, ocorre somente uma
“transportação”. O performer através de uma preparação ou aquecimento, deixa o seu dia-a-dia e é
transportado para um lugar de sob elevação colectivo, regressando ao seu
quotidiano quando a sessão terminar.
A transformação e a transportação, que são conseguidas
através do clima ou ambiente colectivo que se proporciona, pode também ser
descrito através de um conceito da psicologia “positiva”: O flow.
O que Mihaly Csikszentmihalyi, fundador do conceito,
descreve que flow é um estado quase de “transe”, em que o participante deixa de fazer o
que toda a gente está a executar, para se fundir nessa actividade. Os
participantes podem ter consciência das suas acções, mas é quase uma consciência
colectiva, em que “o limite entre o ‘self
interior’ e a actividade executada se dissolve”, tornando-se numa unidade. O estado flow
acontece quando os participantes sentem que a sua consciência do mundo
quotidiano desaparece e se funde com as acções ou actividades que estão a
realizar, levando-os a um envolvimento pleno e a uma extrema atenção no todo.
A transportação e a transformação que ocorrem nos grupos
de Teatro e Comunidade, durante as suas performances, poderão ser duradoras no que concerne ao
desenvolvimento humano, quer individual, quer comunitário. O desenvolvimento pessoal e comunitário é quase
inevitável acontecer, pois os grupos de Teatro e Comunidade trabalham, num
espaço de expressividade corporal, emocional e sensorial,
experienciam a afiliação (segundo Carl Rogers, inerente ao
desenvolvimento humano) e assumem o livre controlo das suas vidas, tornando-se
mais activos nas decisões da sociedade.
Jacob Levy Moreno (1889-1974), apoiado em estudos sobre o
inconsciente e o movimento/acção que surgiram nos finais do século XIX e no princípio
do século XX, considerou que um óptimo desenvolvimento pessoal só acontece
através de uma liberdade expressiva, como via para a procura de novos caminhos
para a vida. Para Moreno, mais do que a utilização de palavras, é somente
através da utilização da acção que o individuo encontrará vias alternativas na
resolução dos seus problemas, que o ajudará no processo de transformação e da
mudança.
Também durante a viragem para o século XX, grandes
personalidades da história do teatro, preocupados e sensíveis com as questões
da transformação do performer em
palco, e de que forma as emoções e criatividade surgiam, criaram métodos e
laboratórios para estudarem esses processos.
Um desses grandes nomes, que rompeu com a forma
estilizada de fazer teatro nos finais no século XIX e que influenciou
grandemente o teatro do século XX, foi Konstantin Stanislavski (1863-1938). Foi
ele que desenvolveu o conceito “como se” [as if]. Quando os seus actores apresentavam dificuldades em
demonstrar alguma emoção em palco, era-lhes sugerido que desempenham a acção
“como se” ela acontecesse na vida real. Assim, Stanislavski salienta a
importância que tem o inconsciente do actor na personagem que desenvolve em
palco.
Também Jergy Grotowski (1933-1999), nos anos 70,
preocupou-se com a criatividade e como ela acontece no ser humano. O trabalho
desenvolvido no seu teatro laboratório, estava direcionado para a forma como
proporcionar a todos uma redescoberta da experiência teatral e ritual, através
de um verdadeiro encontro entre indivíduos. Para Grotowski, é através do mito e
do ritual que as pessoas se aproximam mais (cont...)